A ação da morfina como analgésico opióide, sua ligação com o vício e como substituí-la: uma revisão sistêmica da literatura

International Journal of Development Research

Volume: 
12
Article ID: 
25729
5 pages
Research Article

A ação da morfina como analgésico opióide, sua ligação com o vício e como substituí-la: uma revisão sistêmica da literatura

Beatriz Melo de Almeida, Eduardo Edésio Carvalho Panta, Gustavo Henrique de Lima Pereira, Jéssica Soares Couto Barbosa, Hilton Cardoso Arruda Macedo, Lívia Hastenreiter e Melo Batalha, Luísa Ferraz Borbas Torres, Pedro Carvalho Guimarães, Brisa Emanuelle Silva Ferreira and Lucas Ferreira Alves

Abstract: 

Introdução: Classificamos como analgésico opióide todos aqueles medicamentos derivados do ópio, um extrato do suco da papoula (Papaver somniferum) que contém morfina e substâncias alcaloides relacionadas. A morfina, inicialmente descoberta pelo alemão Friedrich Sertürner no século XIX, foi utilizada durante anos como sendo o principal tratamento para dores, uma vez que se apresentava como medicamento mais eficaz perante uma escassa disponibilidade de fármacos. No entanto, a partir de 1839, durante a Guerra do Ópio, foi observado um crescente número de dependentes químicos dessa substância, ressaltando os possíveis efeitos negativos de sua frequente utilização. Embora, na atualidade, tal informação seja indubitável, o vício causado pelo uso desse fármaco ainda é um problema na saúde pública, carecendo de alternativas mais seguras para o ideal desse tratamento. Objetivo: Correlacionar o efeito analgésico da morfina e o vício provocado por ela à possibilidade de substituição desse medicamento. Metodologia: Essa é uma revisão sistemática da literatura feita por meio das bases de dados digitais Portal Capes, Scielo e PubMed. Foram encontrados 52 artigos pela busca dos seguintes descritores em ciências da saúde (DeCS): “morfina”, “abuso de opioides”, “vício”, “prazer” e “AT-121”. Dentre os artigos, foram selecionados 21 para análise dos resultados e construção da pesquisa de dados, a partir dos seguintes critérios: artigos publicados a partir de 2004 e nos idiomas inglês, português e espanhol. Discussão: A morfina é um fármaco composto por dois anéis planares associados a duas estruturas alifáticas em anel. Quando relacionada à função opióide, os grupamentos hidroxila livres no anel benzênico são suas principais estruturas, dado que é a partir de suas substituições que formam-se as variantes deste medicamento. Ela possui seu mecanismo de ação baseado na alteração do funcionamento bioquímico do transporte ativo na membrana neuronal, denominada bomba de sódio e potássio. No transporte, esse fármaco age diretamente abrindo os canais de sódio, além de inibir a abertura dos canais de cálcio, ao ligar os receptores opióides às proteínas G inibitórias. Dessa forma, a morfina promove uma hiperpolarização das membranas relacionadas à diminuição da excitabilidade neuronal, o que, consequentemente, influencia na transmissão de impulsos nociceptivos causando analgesia. Porém, apesar dos benefícios explícitos desse medicamento no tratamento inibitório da dor, seu uso pode provocar dependência química nos usuários, dado que, com seu uso, assim como de todos os opióides, ocorre um aumento na quantidade de dopamina no sistema límbico e, principalmente, um aumento na liberação desse neurotransmissor gerando uma síndrome da abstinência na interrupção da sua administração. Para burlar esse aumento na quantidade de dopamina e não causar dependência do medicamento, algumas alternativas já estão em estudo e devem estar disponíveis para uso clínico dentro de alguns anos, como o AT-121 que está sendo estudado nos Estados Unidos e tem efeitos maiores na redução de dor comparando com a morfina, já que além de agirem nos receptores opioides mu (MOP), como faz a morfina, esse medicamento também age nos receptores de peptídeo FQ nociceptina / orfanina (NOP), onde tem se mostrado que a ação em conjunto nesses receptores tem causado aumento dos efeitos analgésicos e diminuição dos efeitos de dependência dos opióides; além disso, outro medicamento que está sendo desenvolvido no Brasil pelo instituto Butantã é a Crotalfina, que além de agir nos receptores mu, kappa e delta como os opioides, também age nos receptores canabinoide CB1 e CB2 e diminui a liberação de interleucina-6 aumentando ainda mais a eficácia analgésica em comparação com os opióides. Conclusão: A morfina, apesar de ser um ótimo analgésico em diversas ocasiões, possui um grande poder de sedução, pode causar dependência e ser responsável pelo desenvolvimento de doenças graves passíveis de evoluir para óbito. Nesse sentido, conclui-se que são necessários estudos e pesquisas científicas que associam o efeito terapêutico à dependência causada pelo uso da morfina, com objetivo de alcançar uma alternativa menos arriscada para tratamentos imprescindíveis ao uso deste opióide. Portanto, como plausível alternativa de permanecer com o benefício da morfina para pacientes que a necessitam, sem que haja o possível risco de vício por tal, cabe a análise de medicamentos alternativos que, por meio da atuação associada de receptores, acarreta o mesmo efeito analgésico de tão maléfica, porém eficiente, droga.

DOI: 
https://doi.org/10.37118/ijdr.25729.11.2022
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